Piquet volta a Interlagos
Por Luis Máximo Morelo
Uma forma de sedimentar o presente e inspirar o futuro é não esquecer o passado. Quem foi a Interlagos assistir ao Grande Prêmio do Brasil de F1 teve uma surpresa: a volta que Nélson Piquet pelos 4.309 mil metros do autódromo José Carlos Pace com seu Brabham BT-49C, modelo que competiu no mundial de 1981 e conquistou seu primeiro campeonato, fez com que o público nas arquibancadas dessem uma volta ao passado. Uma justa homenagem ao tricampeão, que celebra em 2011 os 30 anos do título conquistado nas ruas de Las Vegas.
Nelson Piquet pilota Brabham, emociona Interlagos e homenageia o Vasco
Sem chuva, sem um adversário à altura dos carros da RBR e sem um piloto brasileiro carismático, o GP Brasil de 2011 será lembrado pela homenagem a Nelson Piquet, que levantou o público de Interlagos ao dar 4 voltas no circuito para comemorar os 30 anos da conquista de seu primeiro título mundial.
Na última volta, a bordo do Brabham-Ford de 1981, Piquet sacou uma bandeira do Vasco, mexendo ainda mais com o público. Gritos, aplausos, vaias, piadas: a passagem do tricampeão mundial agitou Interlagos de uma forma que nenhum piloto da atualidade conseguiu fazer, uma hora depois, na última prova da temporada.
Um pouco antes de Piquet dar suas voltas pelo circuito, todos os pilotos desfilaram em carro aberto. É uma cena que faz parte do ritual das corridas de F-1.
Foram aplaudidos, é verdade, mas muito menos do que o tricampeão mundial.
Com o carro histórico, Piquet conquistou o seu primeiro título mundial em 1981 e subiu três vezes ao ponto mais alto do pódio vencendo os Grandes Prêmios de Argentina, San Marino e Alemanha, além de ter largado três vezes na pole position. A homenagem contou com as presenças de ex-membros da Brabham como Bernie Ecclestone (dono), Herbie Blash (chefe de equipe), Charles Whiting (chefe dos mecânicos) e Nigel De Strayter (mecânico).
Depois de dar a volta em Interlagos com o Brabham, Nelsão vai recuperou o fôlego – afinal, ele já está na porta de ser um sessentão – e apareceu no final do Grande Prêmio para dar a bandeirada da vitória. Uma sensação diferente para quem ganhou dois Grandes Prêmios do Brasil, em 1983 e 1986. Na verdade (e na pista), ele venceu três. A estatística da F1 não conta a vitória em 1982 porque a federação desclassificou-o daquela corrida muito tempo depois que ele recebeu a quadriculada.
Curiosamente, na Fórmula 1, Piquet competiu mais em Jacarepaguá do que em Interlagos. Dos 13 GPs do Brasil que disputou, apenas quatro foram na pista paulista (1979, 1980, 1990 e 1991).
Colocar um F1 que fez história para o Brasil para acelerar em Interlagos antes do GP não é novidade. Ano passado, o público foi brindado com o desfile em alta velocidade da Lotus 72D, que deu o primeiro título mundial a um piloto brasileiro. No cockpit? O próprio! O bicampeão Emerson Fittipaldi!
Mais alguns anos atrás, mais precisamente em 2004, Bruno Senna acelerou a Lotus 97T, que seu tio Ayrton competiu na temporada de 1985 e conquistou sua primeira vitória na categoria.
É bacana esse merecido resgate que é feito com importantes pilotos brasileiros. E essa volta ao passado nada tem a ver com o jejum de títulos do Brasil na F1 – o último completou 20 anos no mês passado. É claro que é uma situação desconfortável. Afinal de líder de títulos mundiais até bem pouco tempo atrás, o Brasil foi ultrapassado – sem Kers ou asa móvel – por Inglaterra e Alemanha.
Vamos deixar a emoção de lado e analisar o cenário. A verdade é que fomos mal acostumados por anos a fio. Culpa (no bom sentido, é claro!) de Emerson, Nélson e Ayrton. Não é sempre que se ganha um mundial na Fórmula 1.
Vamos dar uma espiada no topo do ranking de países com títulos na F1. Começamos pela Alemanha, país do fenômeno Sebastian Vettel. Os germânicos levaram 44 anos para conquistar seu primeiro título, que veio com Michael Schumacher em 1994. Com os mesmos nove títulos da Alemanha, a Inglaterra passou por um jejum de 16 anos. Em quarto lugar no ranking estão Argentina, que não conquista um mundial há 54 anos, e Escócia, que não levanta um caneco há 38 anos. Países com tradição no automobilismo também passam por jejum: a Itália não vence um campeonato de F1 há 58 anos; já a França, que venceu seu último mundial com Alain Prost em 1993, ficou 35 anos para conquistar seu primeiro título.
Como já escrevi, ficar sem ganhar um mundial é uma situação desconfortável, mas não é o fim do mundo. É importante destacar que, nesse período de “vacas magras”, pilotos brasileiros conquistaram 30 vitórias e disputaram títulos. Não há receita para o nosso país voltar a ter um campeão na F1. Porém, é preciso atender a um requisito para continuar a sonhar: o investimento na base é fundamental para mantermos a esperança no futuro.
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